quarta-feira, 8 de outubro de 2008




Oficina afro orienta estudantes contra preconceito

Por Jaqueline Barreto

Som do tambor, música que nos remete à África. Indumentária e artefatos típicos da cultura afro-brasileira. Movimentos corporais que servem de alusão às danças dos orixás. Cabelos blacks ao vento. São elementos utilizados pelo grupo de teatro Omi-dùdú Artes em uma viagem histórica proporcionada a estudantes e professores de escolas públicas da capital baiana, através de oficinas de cultura afro realizadas gratuitamente neste ano de celebração de 120 anos da abolição da escravatura.

Em parceria com a Fundação Cultural Palmares, a instituição promove nos colégios espetáculo teatral, debates, exposição de vídeo, desfile de moda afro, oficinas de trançados e vestimentas africanas para estimular a conscientização e propiciar diversão ao público. A organização pretende atingir 30 mil pessoas no Estado, através de sessões com duração média de três horas. A cada dia, uma unidade é visitada.

No evento, o passado colonial mistura-se à realidade do século XXI, as mazelas históricas são associadas ao descaso social sofrido por negros na contemporaneidade, em busca da afirmação da identidade étnica. “Usamos o signo teatral para discutir a questão racial. Utilizamos o teatro como fonte de conscientização, como elemento de transformação da realidade do negro no Brasil”, frisa o ator e instrutor teatral Léo Santos, também coordenador do grupo Omi-dùdú Artes.

Para ele, a temática é de extrema relevância na busca pelo resgate da história e cultura afro-brasileira. “Além de abordamos sobre a lei 10.639/03 (substituída este mês por uma outra, que prevê o ensino da história e cultura indígena, além da afro-brasileira, nas unidades de ensino médio e fundamental), chamamos atenção sobre as várias formas de racismo, abrimos um leque também para discutir sobre a inserção do negro na mídia”, explica.

A diretoria do Colégio Estadual Renan Baleeiro, localizado no bairro de Águas Claras, assegura que projetos desta natureza são bem-vindos e, inclusive, auxilia na geração de políticas públicas para o segmento. As influências já podem ser sentidas. “Com a oficina, a gente aprende a não discriminar ninguém por causa da cor da pele. Eles falaram sobre os apelidos que se colocam em nós negros nas escolas, mostraram como a escola reproduz muito o racismo”, conta Neisiane da Silva, 13 anos, estudante da 6° série no Colégio Antonio Carlos Magalhães, em Periperi (Subúrbio).

O tema chega, também, aos professores. Adriana Virma, 34 anos, é um exemplo. Professora de geografia do Colégio Estadual Edson Souza Carneiro, em São Caetano, destaca o enriquecimento cultural proporcionado pelo projeto e afirma que conheceu o comportamento racista da ciência durante o século XIX. “Desconhecia o papel desempenhado pelos cientistas naquela época. Não sabia que eles queriam legitimar o racismo através de análises científicas”, frisa.

contatos

Elton martins- e_jor@hotmail.com
Jaqueline Barreto-jaquelinebarreto2008@hotmail.com